Você teria coragem de vender todos os seus bens para apostar na abertura de uma empresa? E se dentre esses bens estivesse sua única casa própria? Pois foi isso que Abelardo Batista da Silva e Maria Januária da Silva fizeram. No ano de 1989, o casal deixou o quesito segurança no passado e resolveu investir no comércio de sucata. Ele, mecânico, natural de Recife, enquanto que Ela, natural de Senhor do Bonfim, cidade do interior baiano, tinha desde criança habilidade com o comércio.

A antiga casa própria, então, foi substituída por uma pequena casa de taipa que abrigou os sete filhos por cerca de um ano, até que uma nova morada fosse construída.

Apesar de terem investido todo o capital conquistado com a venda dos seus bens, o valor não foi suficiente para um começo com muitas dificuldades. O cenário? Um pequeno terreno alugado e nenhuma máquina para carregar ou descarregar as mercadorias.

Na linha de frente, a sucata de ferro. A logística? Caminhões com o material juntado à mão carregado na cabeça até as carrocerias dos veículos. Logo conseguiram comprar o primeiro caminhão, um GM-Chevrolet D-60 (Ano 1972) e que – quando não estava quebrado – era dirigido por seu Abelardo. Uma curiosidade: todas as vezes que o caminhão precisava ser consertado, ele e os seus filhos eram os responsáveis pelo conserto.

Com o crescimento do negócio, parcerias de suma importância foram firmadas e foi chegada a hora da participação dos filhos na condução dos trabalhos. Dentre os quatro que fizeram parte desse processo, José Roberto Batista, o mais novo e até então aquele que não parecia ser o mais engajado nos negócios da família, transformou o conhecimento adquirido na função de motorista no expertise que o levou até a liderança da empresa. Os seus pais jamais imaginavam que a inquietação herdada do senhor Abelardo despertou a curiosidade do caçula que dedicou-se à mecânica hidráulica enquanto sonhava alto.

Da dedicação à hidráulica esse menino prodígio conseguiu fabricar uma prensa móvel, que à época sequer existia fabricante nacional, más o projeto de José Roberto restou mais econômico e mais produtivo que a líder mundial na fabricação deste equipamento.

A prensa hidráulica móvel foi construída e representou a chave para grandes voos. Com o equipamento, era possível deslocar-se a milhares de quilômetros para adquirir sucata de aço, prensar e embarcar, ampliando assim o volume de mercadorias.

A prensa também possibilita grandes parcerias com outros sucateiros para quem se pode prestar serviços de prensagem. Como exemplo, Recicle e Cia possui parceiros em todas as capitais nordestinas.

Atualmente a Recicle e Cia conta com duas prensas móveis, diversos caminhões e quatro unidades de negócios (Petrolina, Lagoa Grande, Simões Filho e Feira de Santana) que comercializam sucatas, prestam serviços de prensagem e, inspirada nas suas raízes (lembram do conserto do caminhão por pai e filhos contado no início desse texto?), possui uma oficina de alta tecnologia para construção das prensas e outras máquinas e equipamentos utilizados no ramo de sucatas.

No ano de 2019, o grupo abriu uma filial em Simões Filho – Bahia para ser o braço exportador. Em 2020, foi o maior exportador de sucata da Bahia.

E assim a Recicle e Cia segue transformando o inutilizável em dinheiro e as adversidades em crescimento. De forma sustentável e inspiradora.